SAIBA MAIS SOBRE A DISSECÇÃO SUBMUCOSA
A dissecção endoscópica da submucosa (ESD) é uma técnica avançada que permite a remoção precisa de lesões no trato gastrointestinal, como tumores superficiais, sem a necessidade de cirurgia convencional.
A dissecção endoscópica da submucosa (ESD) é uma técnica avançada que permite a remoção precisa de lesões no trato gastrointestinal, como tumores superficiais, sem a necessidade de cirurgia convencional.
Inicialmente desenvolvida no Japão durante a década de 90 para tratar cânceres precoces de estômago, a dissecção endoscópica da submucosa (endoscopic submucosal dissection ou ESD) vem ganhando popularidade mundialmente devido aos seus benefícios em relação aos métodos tradicionais. Neste artigo, vamos explorar o que é a ESD, suas indicações, o processo do procedimento e as vantagens para os pacientes.
O QUE É A ESD?
A ESD é um procedimento endoscópico minimamente invasivo que envolve a remoção de lesões situadas nos revestimentos mais internos do trato gastrointestinal, denominados mucosa e submucosa. Diferente de outros métodos endoscópicos, como a mucosectomia, a ESD permite a remoção de lesões maiores e mais profundas, com margens limpas, reduzindo significativamente o risco de recorrência. O grande diferencial dessa técnica é a ressecção da lesão em fragmento único (en bloc) o que representa uma vantagem significativa em relação as técnicas convencionais (1-2).
QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS INDICAÇÕES DE ESD?
A ESD é indicada para :
Lesões gastrointestinais precoces, especialmente cânceres superficiais do estômago, esôfago, intestino grosso e reto;
Lesões de alto risco, como pólipos grandes e tumores com invasão submucosa mas que ainda não invadiram camadas mais profundas;
Pacientes que não podem se submeter a cirurgia convencional devido a problemas de saúde.
COMO É REALIZADO O PROCEDIMENTO?
A ESD envolve várias etapas detalhadas para garantir uma remoção segura e completa da lesão:
Identificação e Delimitação da Lesão: O endoscopista usa uma endoscopia de alta definição para localizar e delimitar os contornos da lesão. Também podem ser utilizados corantes (cromoscopia) para um melhor estudo do aspecto e limites da lesão.
Injeção Submucosa: Uma solução líquida é injetada abaixo da lesão, criando uma elevação que a separa da camada muscular, criando um espaço para o trabalho do endoscopista e possibilitando a sua remoção.
Incisão e Dissecção: Com instrumentos especializados, o endoscopista faz um corte ao redor da lesão e, cuidadosamente, disseca os planos profundos (submucosa) para separá-la do tecido saudável abaixo (muscular). Todos os vasos no caminho são cuidadosamente isolados e coagulados para evitar sangramento.
Remoção Completa da Lesão e Tratamento do Leito: Após a dissecção completa, a lesão é removida e enviada para análise histopatológica para confirmação do diagnóstico. O local da lesão algumas vezes é fechado com clipes. Esta etapa, no entanto, não é obrigatória. Por outro lado, sempre que tecnicamente viável, é realizada.
Cuidados Pós-Procedimento: O paciente é monitorado quanto a possíveis complicações, como sangramento e perfuração, que são raras, mas possíveis.
Delimitação
Dissecção submucosa
Injeção submucosa
Aspecto final
Abertura da mucosa
Peça removida
Dissecção submucosa
Fechamento
VANTAGENS DA ESD SOBRE OUTRAS TÉCNICAS
A ESD oferece várias vantagens, incluindo:
Precisão na Remoção: A técnica permite a remoção de lesões complexas e maiores, garantindo margens livres e reduzindo o risco de recorrência.
Preservação do Órgão: Diferente da cirurgia, a ESD mantém a integridade do órgão, evitando a necessidade de remoção parcial ou total, como ocorre nas gastrectomias e colectomias.
Recuperação Mais Rápida: Sendo um procedimento minimamente invasivo, a ESD permite uma recuperação mais rápida, menor dor pós-operatória e alta hospitalar mais breve.
RISCOS E CONSIDERAÇÕES
Embora seja um procedimento seguro, a ESD exige alto nível de habilidade técnica e apresenta alguns riscos, como:
Perfuração: Risco de lesão na parede do órgão, que pode ser corrigido endoscopicamente na maioria dos casos.
Sangramento: Embora raro, pode ocorrer durante ou após o procedimento e é tratado com técnicas endoscópicas de hemostasia.
O paciente pode retornar a suas atividades habituais em cerca de dias dias (trabalho, escola, dirigir etc). Exercícios físicos extenuantes podem ser retomados após 7 a 14 dias, dependendo do caso.
CONCLUSÃO
A dissecção endoscópica da submucosa é uma técnica inovadora que transformou o tratamento de lesões gastrointestinais precoces e complexas. Com alta precisão e menor impacto no órgão, a ESD é uma opção vantajosa tanto para médicos quanto para pacientes, representando um avanço significativo na endoscopia terapêutica. Se você tiver alguma lesão gástrica, do cólon e reto ou do esôfago e deseja explorar as possibilidades da ESD, converse com seu médico para saber se essa é a melhor opção para o seu caso.
REFERÊNCIAS
1.American Society for Gastrointestinal Endoscopy Guideline on Endoscopic Submucosal Dissection for the Management of Early Esophageal and Gastric Cancers: Methodology and Review of Evidence. Al-Haddad MA, Elhanafi SE, Forbes N, et al. Gastrointestinal Endoscopy. 2023;98(3):285-305.e38. doi:10.1016/j.gie.2023.03.030.
2. Indications and Techniques for Endoscopic Submucosal Dissection. Bhatt A, Abe S, Kumaravel A, Vargo J, Saito Y. The American Journal of Gastroenterology. 2015;110(6):784-91. doi:10.1038/ajg.2014.425.
3.Endoscopic Submucosal Dissection Techniques and Technology: European Society of Gastrointestinal Endoscopy (ESGE) Technical Review. Libânio D, Pimentel-Nunes P, Bastiaansen B, et al. Endoscopy. 2023;55(4):361-389. doi:10.1055/a-2031-0874.
4. Endoscopic Removal of Colorectal Lesions-Recommendations by the US Multi-Society Task Force on Colorectal Cancer. Kaltenbach T, Anderson JC, Burke CA, et al. Gastroenterology. 2020;158(4):1095-1129. doi:10.1053/j.gastro.2019.12.018.
5. Ambulatory Endoscopic Submucosal Dissection for Gastrointestinal Neoplasms: Trends and Associated Factors in the United States. Kim YI, Khalaf MA, Keihanian T, Salmaan J, Othman MO. Clinical Gastroenterology and Hepatology : The Official Clinical Practice Journal of the American Gastroenterological Association. 2024;22(8):1734-1736.e3. doi:10.1016/j.cgh.2023.12.021.
6. Endoscopic Removal of Colorectal Lesions: Recommendations by the US Multi-Society Task Force on Colorectal Cancer. Kaltenbach T, Anderson JC, Burke CA, et al. The American Journal of Gastroenterology. 2020;115(3):435-464. doi:10.14309/ajg.0000000000000555.
7. Endoscopic Submucosal Dissection in North America: A Large Prospective Multicenter Study. Draganov PV, Aihara H, Karasik MS, et al. Gastroenterology. 2021;160(7):2317-2327.e2. doi:10.1053/j.gastro.2021.02.036.